julho 27, 2011

O problema com (o letreiro de) Harry

"The trouble with Harry" (1955) é um dos mais encantadores filmes de Alfred Hitchcock. É uma pequena jóia, lapidada com precisão. Não é a produção mais popular do diretor, talvez por não ter o apelo e o impacto de filmes como "Psycho", "Vertigo" e "The birds", nem ser dominado pela presença de grandes astros (Shirley MacLaine estreou neste filme, mas só depois viria a se tornar uma atriz conhecida). O tom de "Harry" é outro, é o da ingenuidade, da poesia das pequenas coisas, temperado com um refinado humor negro. A trama se desenvolve a partir do aparecimento de um cadáver (o Harry do título) na floresta de uma pequena vila, o que leva alguns dos seus prosaicos habitantes a quererem se livrar do corpo por acharem, ingenuamente, que foram os responsáveis (involuntários) pela morte do indivíduo.  A fotografia de “Harry” é uma das mais belas dentre todos os filmes coloridos do mestre do suspense. A trilha sonora é do gênio Bernard Herrmann, em plena forma. Um filme perfeito em tudo... Ou quase tudo. O letreiro é mais um exemplo dos desastres desencadeados pelo mau posicionamento das informações tipográficas.



Traditional Hollywood's title design 02 por graphicinema

O problema é que o filme desperdiça o painel feito especialmente para a sequência pelo grande Saul Steinberg - um dos mais influentes nomes da ilustração e do cartum moderno - em seu único trabalho no cinema. O estilo irônico, despojado e intencionalmente naïf de Steinberg se adequa perfeitamente ao tom do filme, mas é contradito por uma apresentação burocrática, alienada e intrusiva dos créditos, que poderiam ter sido posicionados no plano superior do painel, aproveitando os vazios e reforçando a horizontalidade da sequência.



Uma rápida simulação de uma alternativa que poderia ter sido explorada:

Para conhecer mais Steinberg:


Saul Steinberg - As aventuras da linha from IMS - Instituto Moreira Salles on Vimeo.
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