julho 22, 2011

Texto e imagem no cinema - parte 1

Antes que conceitos do design gráfico moderno fossem empregados no cinema, invariavelmente a inserção de informações tipográficas sobre as cenas dos filmes sempre resultava desastrosa. Quando a apresentação dos créditos ocorria sobre a ação narrativa – uma prática muito comum, até hoje – geralmente o mau gosto na escolha da tipografia e o uso de velhos cacoetes de composição acabavam por atrapalhar a imagem filmada, fazendo com que o texto se apresentasse como um incômodo ruído, comprometendo inclusive o acabamento visual do filme. É incrível como cineastas e produtores demoraram mais de meio século para perceber isso.

A falta de correspondência entre as informações tipográficas e as imagens filmadas comprometia a plena percepção tanto do texto como da cena. Se a intenção era integrar os letreiros à fluência da narrativa, ela se chocava com a falta de sensibilidade estética dos laboratórios (as optical houses) que produziam os letreiros, resultando em seqüências sufocadas por letras exageradas (uma idéia antiquada de indicar importância), mal posicionadas e com estilos tipográficos vulgares, que acabavam por negar tudo o que a ação tentava expressar.

Um recurso de composição muito utilizado era o da organização dos nomes em "escadinha" (um macete para conseguir colocar mais nomes de uma só vez, aproveitando o espaço horizontal da tela, geralmente empregado para apresentar hierarquicamente os nomes dos atores coadjuvantes), assim como também era popular o emprego de pontos, chaves e colchetes para associar os nomes dos técnicos às suas funções.


Nestes letreiros não há integração entre a imagem e o texto, nem nos seus significados e muito menos nas suas estruturas visuais, resultando em combinações canhestras de intenções diametralmente opostas. Os exemplos deste problema são inúmeros. Abaixo estão duas sequências, que considero bem exemplares. A primeira é de uma versão de 1952 do livro "Os miseráveis" (Les Miserables), de Victor Hugo. O filme se inicia com o julgamento de Jean Valjean, sentenciado a 10 anos de trabalhos forçados, após roubar um pão para alimentar sua família. Os letreiros são apresentados sobre uma sucessão de cenas retratando a via crucis de Valjean no cumprimento da pena. Totalmente obstruída pelas informações tipográficas, a ação praticamente se inutiliza, ficando relegada a um plano subliminar.

O segundo letreiro é do clássico "Rebel without a cause". O filme se inicia com uma cena que, de certa forma, resume o personagem interpretado por James Dean - um momento que praticamente perde todo o seu significado, graças a um letreiro mal elaborado.


Traditional Hollywood's title design por graphicinema

No Brasil, o emprego da apresentação dos créditos como um ruído também ocorria, como pode ser visto nos letreiros de dois grandes clássicos nacionais: "O ébrio", de 1946 e "Sinhá Moça", de 1952. Neste último, os letreiros obstruem a ação que apresenta a fuga de um escravo. Já em "O ébrio", o que ocorre é absurdo: o filme apresenta, logo no início, a imagem da sua diretora, mas sua face em nenhum momento é vista pelos espectadores, já que é totalmente obliterada pelo seu próprio nome e pelo título.

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