O cinema Underground e o fim da febre dos letreiros elaborados
Conforme foi visto em postagens anteriores, nos anos 1960, o cinema brasileiro entrou na onda dos letreiros elaborados. Com o sucesso dos trabalhos de Saul Bass e de outros title designers americanos, os produtores e diretores começaram a dar atenção para a apresentação dos créditos, contratando profissionais criativos das artes gráficas ou do cinema de animação para criarem sequências que agregassem valor aos filmes. Este fato possibilitou que princípios estéticos do design gráfico moderno se inserissem no audiovisual, ampliando o campo de atuação da profissão. No Brasil, a associação dos filmes com a linguagem gráfica moderna (não só nos letreiros, como também nos cartazes) refletia um cinema que buscava novos desafios. No entanto, com o findar da década de 1960, muitas coisas mudaram no Brasil: o Cinema Novo se reconfigurou para se adaptar ao gosto do público, a revolução sexual fez a chanchada virar pornochanchada, e o design moderno começou a ser refutado por uma nova geração de profissionais que, influenciados pela Contracultura e pelo Psicodelismo, passaram a considerar o modernismo mais uma imposição do status quo. A onda dos letreiros, como todo modismo, passou. A novidade no cinema nacional fica por conta do movimento Underground (também conhecido como Udigrudi ou Cinema Marginal), que associou princípios iniciais do Cinema Novo à Contracultura. Sem regras, espontâneo e irreverente, esse cinema que surge no final da década estimulou um novo tipo de letreiro, contrário à “higiene” do visual moderno. Um dos mais notáveis trabalhos desta fase é o letreiro do animador Marcello Giovanni Tassara para “Esta noite encarnarei no teu cadáver” (1967), de José Mojica Marins (o Zé do Caixão), no qual créditos escritos espontaneamente, nervosamente animados, sobrepõem-se às cenas do filme e criam uma enérgica e arrojada introdução à narrativa. Um trabalho de grande originalidade, que de certa forma antecipa os letreiros pós-modernistas que Kyle Cooper realizaria nos anos 1990, para filmes como "Seven" e "The island of Dr. Moreau".
Conforme foi visto em postagens anteriores, nos anos 1960, o cinema brasileiro entrou na onda dos letreiros elaborados. Com o sucesso dos trabalhos de Saul Bass e de outros title designers americanos, os produtores e diretores começaram a dar atenção para a apresentação dos créditos, contratando profissionais criativos das artes gráficas ou do cinema de animação para criarem sequências que agregassem valor aos filmes. Este fato possibilitou que princípios estéticos do design gráfico moderno se inserissem no audiovisual, ampliando o campo de atuação da profissão. No Brasil, a associação dos filmes com a linguagem gráfica moderna (não só nos letreiros, como também nos cartazes) refletia um cinema que buscava novos desafios. No entanto, com o findar da década de 1960, muitas coisas mudaram no Brasil: o Cinema Novo se reconfigurou para se adaptar ao gosto do público, a revolução sexual fez a chanchada virar pornochanchada, e o design moderno começou a ser refutado por uma nova geração de profissionais que, influenciados pela Contracultura e pelo Psicodelismo, passaram a considerar o modernismo mais uma imposição do status quo. A onda dos letreiros, como todo modismo, passou. A novidade no cinema nacional fica por conta do movimento Underground (também conhecido como Udigrudi ou Cinema Marginal), que associou princípios iniciais do Cinema Novo à Contracultura. Sem regras, espontâneo e irreverente, esse cinema que surge no final da década estimulou um novo tipo de letreiro, contrário à “higiene” do visual moderno. Um dos mais notáveis trabalhos desta fase é o letreiro do animador Marcello Giovanni Tassara para “Esta noite encarnarei no teu cadáver” (1967), de José Mojica Marins (o Zé do Caixão), no qual créditos escritos espontaneamente, nervosamente animados, sobrepõem-se às cenas do filme e criam uma enérgica e arrojada introdução à narrativa. Um trabalho de grande originalidade, que de certa forma antecipa os letreiros pós-modernistas que Kyle Cooper realizaria nos anos 1990, para filmes como "Seven" e "The island of Dr. Moreau".
O trailer de "Esta noite encarnarei no teu cadáver" - que segue o mesmo trabalho tipográfico do letreiro - pode ser visto aqui:
Cabe também citar aqui o letreiro integrado ao espaço diegético de “O bandido da luz vermelha” (1968), apresentado como informações de um noticiário luminoso. Não creditado, imagina-se que o designer do letreiro tenha sido o próprio diretor do filme, Rogério Sganzerla. Uma solução visual perfeita para um filme estruturado na intensidade e agressividade dos noticiários policiais sensacionalistas.
Entre os transgressores, encontra-se também o letreiro do animador Joaquim 3 Rios (também conhecido como Joaquim Três Rios) para "Bang Bang" (1971) de Andrea Tonacci, no qual os nomes da equipe técnica são apresentados no mesmo tamanho do nome dos atores e sem estarem associados às funções que desempenharam no filme. Um resultado curioso, que reforça a idéia do filme como uma obra coletiva, no qual todos são responsáveis pelo resultado final. Além deste detalhe, a sequência é admirável pela tensão criada entre a ação e a aparição dos créditos. Estes vão surgindo no centro da tela, ampliando-se sucessivamente, até sairem do campo visual. A ação é um plano sequência em linha reta, que acompanha a movimentação de três personagens em um grande galpão. Os créditos aparecem de forma a explicitar a simetria da imagem e a movimentação da câmera. Por outro lado, há uma curiosa tensão entre a sobriedade do plano e a teatralidade da aparição dos créditos, assim como também há tensão entre o apuro técnico, presente no impecável movimento de câmera, e o caráter quase surreal do conteúdo da cena.
Bang Bang letreiro por graphicinema
Na década de 1970 os letreiros dos filmes brasileiros voltam a ser uma mera formalidade, prevalecendo a solução de apresentá-los sobrepostos à ação narrativa, mas sem a relação estrutural proposta por Lygia Pape. Na verdade, pode-se dizer que os trabalhos inventivos em letreiros deixam o cinema para serem assimilados pela televisão, numa nova funcionalidade, convertendo-se em vinhetas de aberturas de programas, funcionando como uma atração visual para fisgar o telespectador, evitando que ele mude de canal.
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"Bang Bang" encontra-se disponível em DVD no Brasil, sendo o primeiro volume da coleção "Cinema Marginal Brasileiro" da Lume Filmes.
www.lumefilmes.com.br
parabéns pelo blog, espero que um dia volte a postar coisas interessantes sobre o cinema nacional! abraços
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